terça-feira, 15 de maio de 2012

A Caixinha do Grande Rei


Era uma vez em uma terra muito distante uma princesinha linda, chamada Ariana, seu pai, o Altíssimo Rei era sábio e conhecia o coração das pessoas, de todas as pessoas do Reino. Amava a todos e tinha muitos filhos, o Altíssimo Rei tinha um apego especial pela princesa Ariana e deu muitos presentes a ela, das aves do céu conseguiu o canto mais lindo, das feras da terra conseguiu a graça dos mais suaves movimentos, se baseando nas mais belas flores, fez a roupa que a cobria e do fundo do mar e de dentro das cavernas retirou as jóias mais lindas para adornarem-na.
Ariana era feliz, mas queria no fundo desbravar as aventuras que tinha ouvido dizer que haviam do lado de fora da Corte do Altíssimo, pensou em fugir de casa para ver tudo e depois então voltaria para seu palácio, mas o Rei não era alguém que podia ser enganado e no dia da fuga foi ver sua filha:
_ Estás decidida a ir não estás pequena?
_ Desculpe Papai, mas eu tenho que fazer isso, tenho que ir, porém, prometo que vou voltar pra casa, de verdade Papai. Promessa de princesa!
_ Oh minha filha, gostaria Eu que fosse tão fácil, se te vais agora, talvez o mundo lá fora te seduza e tu te esqueças do Pai que te espera aqui dentro.
_ Oh não Papai! Nunca irei esquecer-te, nunca poderia, eu vou voltar eu prometo.
_ Vai... Vai voltar sim, porque farei com que não esqueça, pegue... Esta caixinha tem algumas coisas que você vai precisar para voltar para casa Filhinha, será a única coisa do palácio, fora as roupas que poderás levar, teus adornos ficarão comigo e teus dons não Quero que leves para gastá-los com o que há lá fora, tenho chorado noites inteiras pensando nos teus irmãos que também foram, alguns deles nunca voltaram e desperdiçaram tudo o que Eu lhes dei no mundo.
_ Mas... Papai... O Senhor está... Chorando? – Ariana olhou nos olhos do Pai, que sempre tinha visto como um Rei, tão grande e majestoso, tão poderoso e Altivo às vezes, tão sorridente quando estava com ela, Ele sempre tivera os melhores abraços e os melhores sorrisos pra ela e agora Ele chorava, por ela, por seus irmãos, as lágrimas caíam dos olhos do Grande Rei e Ele a olhava como se soubesse de algo que ela não sabia, então Ele se levantou e saiu, sem ao menos limpar as lágrimas dos olhos. Ariana pensou em desistir da viagem e ficar com seu Pai, mas seu coração protestou, ela queria muito essa viagem e então seguiu seu coração.
Ao sair do palácio a princesinha viu uma festa e correu para olhar mais de perto, todos pareciam felizes e ela queria dançar, como fazia na corte, mas seus dons ficaram no palácio e ela descobriu que ali, a única forma de dançar era a forma daquelas pessoas, teria que “dançar conforme a musica” como se dizia no lugar, imitou então os passos dos dançarinos que eram ousados e sensuais, as longas saias dos seus vestidos a atrapalhavam e ela, empolgada com a dança acabou por rasgá-las para deixá-las mais curtas, como as dos dançarinos, conheceu então a sensualidade.
A princesa passeou e brincou, comeu a comida do mundo e bebeu de seus elixires, por fim dormiu entre eles e assim acordou.
Algum tempo depois ela descobriu que deveria avançar para o próximo vilarejo do mundo, ali não era tão bonito nem tão festivo, as pessoas dançavam também, mas noutro ritmo mais triste, mais deselegante, ali o grande trunfo eram os discursos e com canções as pessoas ganhavam seu reconhecimento, e podiam ficar em um lugar melhor do vilarejo, Ariana ouviu tantas canções e as achou estranhamente convidativas, decidiu que queria cantar, lembrou-se então que seu canto ficou na corte e como com as danças aprendeu o modo do lugar de cantar, as musicas não eram tão lindas quanto no palácio, e não tinha seu Pai para ouvi-la com aquele sorriso lindo que Ele guardava só pra ela, mas Ariana aprendeu a cantar... E cantou por prestígio, por admiração e também, algumas vezes para lembrar de casa. Conheceu então o orgulho.
Ali Ariana cantou, comeu comidas cada vez menos agradáveis e dormiu entre eles, e assim acordou...
Chegou a hora da princesa seguir para o próximo vilarejo do mundo e ali ela encontrou algo que não imaginava... Era um vilarejo de doentes, pensou estar no lugar errado, estava bem, não estava doente, devia voltar, então olhou para baixo e viu... Uma mancha negra crescia pelos seus pés e pernas e ela começou a chorar, alguém parou do seu lado e disse:
_ Você não pode chorar em publico, deve ser forte e colocar isso no rosto...
_ O que é isso?
_Isto é uma mascara e todos os doentes a usam.
_ Para que serve?
_Para que ninguém veja quem é você de verdade e que ninguém pense que você não está feliz.
_ Mas eu não estou feliz.
_ Shhhhh! Quieta! Ninguém pode te ouvir dizer isso aqui. Porque o segredo deste vilarejo é você parecer e convencer os outros de que é feliz e de repente você acaba achando que é realmente verdade.
Ariana então colocou uma máscara e fingiu ser feliz, sorriu e a cada dia que passava ia esquecendo o que era a real felicidade, naquele vilarejo as pessoas que podiam, dançavam, as pessoas cantavam musicas tristes e músicas amargas com suas vozes sofridas. A princesinha chorava quando ninguém via e sorria tentando enganar a si mesma com a ilusão de felicidade.
A cada dia as manchas em suas pernas cresciam e ela percebeu que se tornara um deles, um dos doentes. Ariana então chorou. Chorou por ver no que tinha se tornado, Ariana conheceu então a Culpa.
Ali a princesa dançou, cantou e dormiu entre eles e assim acordou.
Alguém olhou para a princesa Ariana e disse:
_Não está na hora de ir para o próximo vilarejo menina?
_ Há um outro vilarejo? Por favor, me diga que é melhor do que esse... Diga que tem remédios lá...
_ Remédios? Hahahaha não, não há remédios lá menina, somente mortos.
_ Mas não estou morta...
_ Não ainda, mas vai estar em pouco tempo se continuar por aqui, decidimos que quem está do jeito que você está agora, deve ir para o próximo vilarejo andando e esperar a morte por lá para não termos que carregar corpos estando todos nós doentes.
_ Mas... Deve haver alguém que possa me curar... Aqui não tem médicos?
_ Médicos? Pensa que está onde menina? Aqui não é o Palácio do Altíssimo Rei... Aqui somos todos esquecidos por Ele.
_ Não... Papai não nos esqueceu. Ele nunca esquece ninguém.
_ Que seja princesinha, mas duvido que Ele esteja pensando em você agora...
Sozinha num canto escuro, olhando bem para as suas feridas Ariana lembrou do Seu Pai, do Seu Rei. Da ultima vez que o vira, Seus olhos sempre tão compreensivos estavam transbordando de lágrimas por ela. Ele sabia, sabia o que ia acontecer pediu que ela não fosse, mas ela não ouviu... Como poderia saber? Como poderia imaginar que acabaria desse jeito? Ariana começou a chorar pensando em como seria bom estar em casa, olhou para o lado e viu a caixinha que Se Pai lhe dera.
Era uma caixinha simples de madeira, aparentemente sem valor, tinha o selo Real e estava endereçada a ela. Ariana pensou em abrir a caixa, pensou varias vezes ao longo do caminho, mas nunca tivera coragem, o Pai dissera que era para quando quisesse voltar para casa, mas como ela poderia voltar? Como voltaria desse jeito? Envergonhada, doente, marcada de diversas formas pelo mundo de fora...
Ariana não abriu a caixa antes, mas abriria agora, era o único jeito, ela precisava. Sentia saudades do Pai. Respirou fundo e abriu a tampa, imediatamente um cheiro suave começou a exalar de dentro fazendo-a sentir bem, tinha cheiro de casa. Ali havia uma carta e algumas coisas, abrindo a carta Ariana, que não se sentia uma princesa havia muito tempo leu:
_ Filha, não sabes o quão feliz estou que tenhas aberto esta carta. Então decidistes voltar? O mundo ai fora não é bem o que você queria não é? Saiba que estou pensando em você todos os dias e sinto muito o que te está acontecendo, Eu não posso ir aí te buscar, tu é quem terás que voltar sozinha, com seus próprios pés assim como chegou aí onde estás, mas Eu Sou seu Pai e te amo tanto que nesta caixa você vai encontrar algumas coisas... Primeiro, Passes o bálsamo que te deixei, assim suportarás viajar de volta mesmo com tuas feridas, quando chegares em casa tratarei delas...
Depois de pegar e passar o bálsamo sobre o corpo Ariana se sentiu bem melhor, era quase como estar curada, Seu Pai realmente lhe dera um grande presente, mas então a moça continuou lendo:
_ Melhor agora minha princesa? Bem tente agora achar umas sandálias que te deixei dentro da caixa, elas vão te desligar desta terra suja em que estás e então comece sua caminhada, comece agora, não espere até amanhã, não espere nem um pouco, tudo o que você vai precisar está ai dentro, e outra coisa... Preciso que você tire esta máscara que tem em teu rosto.
Ariana tocou a máscara que passara a quase fazer parte dela e se perguntou como seu Pai saberia que a estava usando... Era uma pergunta tola. Seu Pai era o Altíssimo Rei e sabia tudo sobre todos. Ariana suspirou, não era nada fácil se humilhar e mostrar seu rosto depois de tudo o que acontecera... Depois de tudo o que tinha feito. Ela não era mais uma princesa não era mais tão pura e doce. Definitivamente não era a mesma pessoa que saiu do palácio um dia...
_ Filha, Eu não desisti de você... Nunca vou desistir você é minha princesa, nunca se esqueça disso, nunca, jamais esqueça que Eu, o Altíssimo Rei, Supremo Senhor de tudo, Amo você e daria tudo o que fosse preciso por você. Sei que está se sentindo suja, que está se sentindo culpada e que sente dor em seu pequeno coração, mas ainda assim você é minha. Não deixe que ninguém, NINGUÉM, te convença do contrário... Por fim lembre-se: Os erros de uma princesa não mudam o fato de ela ser filha do Rei! Agora vai filha, tira essa máscara e volta pra casa, volta pra mim...
Ao ler as ultimas palavras da carta, Ariana chorava e retirou a máscara sem pensar em nada além de ver o sorriso de seu Pai mais uma vez, ela então correu, correu por todo o vilarejo até sua porta de entrada, passou por ele e nunca dormia com os outros, se afastou de todos os que a pudessem tentar enganar... Comia somente o que tinha na caixa, coisas que nunca perdiam sua validade que não se desfaziam ou apodreciam, coisas que o Grande Rei tinha deixado pra ela, aprendeu que o bálsamo do Pai lhe fazia seguir adiante apesar das cicatrizes, apesar de ainda doente, passou pelo segundo vilarejo e as pessoas continuavam perdidas em seus discursos e em suas musicas tristes, mas não Ariana, ela já passara por isso e nunca mais iria voltar, sempre que pensava em desistir de voltar para o Pai, se lembrava das palavras Dele: Os erros de uma princesa não mudam o fato de ela ser filha do Rei! Assim tinha ânimo para continuar, e Ariana correu por mais um vilarejo, neste viu novamente as festas e danças animadas de sempre, mas elas não mais a atraiam, porque agora ela já estava perto, já conseguia ver o castelo e correu com todas as suas forças até estancar surpresa... Seu Pai, o Grande Rei estava a sua espera na porta de casa, seus braços abertos prometiam o melhor de todos os abraços e seu sorriso e lágrimas demonstravam Sua emoção. Ariana recuperou o folego e correu ainda mais, se jogando nos braços do Pai que a apertou forte dizendo:
_ Que saudades tive de ti pequena... Me deixaste preocupado.
_ Desculpe Papai, estou tão arrependida, estou doente e cheia de marcas, perdi a essência dos Teus dons e não sei mais como ainda me chamas de princesa.
_ Quando vais entender filha? Os erros de uma princesa não mudam o fato de ela ser filha do Rei! Não importa o que aconteceu, vou sarar tuas feridas, às vezes vai doer, às vezes vai ser difícil voltar a pensar como Eu, mas com o tempo, Te devolverei os teus Dons e Tu Serás quem Eu sempre sonhei que fosses, este tempo que passaste fora só atrasou um pouco os Meus planos, mas você ainda é minha filha, a menina dos meus olhos e a primeira coisa que vamos mudar em você é esta roupa suja, vamos querida e me deixe te dar roupas novas, dignas da filha amada do Grande Rei...
Ariana estava feliz com o sorriso de Seu Pai, ela sabia que não seria fácil apesar de não entender bem o que Ele planejava fazer, mas ela sabia que não desejava outra coisa de sua vida, era extremamente grata por ter a oportunidade de voltar, por ter recebido de volta sua casa, seu lar, tudo isso por um simples presente que Fez toda a diferença...
A caixinha do Grande Rei.



[De Maíra Carneiro para Ariana Carneiro, a essência Real nunca abandona uma Princesa, basta sabermos que de vez em quando vamos precisar nos humilhar e nos deixar sarar mesmo sem entender os planos do Altíssimo, dedico a você que tem se mostrado Grata por ter sido aceita de volta, assim como eu fui um dia, e ainda sou, todos os dias.]

Agradecimento especial ao meu amigo Marcelo  cuja frase inspirou este conto. Obrigada amigo poeta!

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