segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

[Conto] O Verbo, o Poeta e a Trovadora




Estou acostumada a começar contos com era uma vez... Mas este não é um conto de fadas. É tenso, é triste e um pouco travado. Não garanto uma leitura agradável. Não garanto a beleza da prosa nem versos elaborados... Eu só continuo aqui, com esperança de que ele faça alguma diferença. Não sou a pessoa mais indicada para escrevê-lo, talvez... Mas sou a única com o teclado sob as mãos.
Meu conto é sobre um poeta, um poeta que amava o mundo.
Meu conto é sobre um poeta, um que ainda assim odiava o mundo.
Sua vida não foi um mar de rosas, seus medos não foram acalmados, suas tristezas não foram consoladas, seus amigos não eram amigos e sua família não sabia nada sobre sua dor. Ele nem sempre foi um poeta, (e aqui alguns talvez discordem porque acreditam que poetas já nascem aos versos, mas eu acredito que a vida constrói um poeta.) Ele era somente um garoto como mil outros garotos, mas diferente de qualquer pessoa, era individual e assim fora criado, separado de outros em sua pequena bolha. Então um dia ele conheceu o mundo das letras, dos códigos e das palavras, e lá ele aprendeu que podia se recriar, e que podia se refazer e ainda ser ele mesmo. Aprendeu a brincar com palavras e a esconder-se dentro de si, ele aprendeu as rimas e as métricas e se encantou com a teoria de tudo e sobre tudo pela teoria, nunca pensou que fosse fácil viver, nunca aceitou as repostas simples e por isso se tornou um poeta, para vomitar de volta no mundo aquilo que o mundo o fazia engolir. Sua revolta cresceu e ele achava que tudo e nada eram o mesmo. Tentou desafiar o que ninguém venceu, tentou responder aquilo que só Deus sabia e debateu, e discutiu, porque concordar não era algo com que ele se sentisse bem. E lutou, mesmo que o oponente não soubesse que era um inimigo, então deixou de ser ele mesmo. Quis esconder dentro de si tudo aquilo que ainda considerava bom e tomou os vilões por heróis. O Poeta deixou para trás sua infância feliz; quando sua família o erguia no colo e o aconchegava. Sua família não podia se aproximar porque o que nos ama se supõe que nos destruirá, e ele tinha medo de aceitar esse amor, ele tinha medo de se tornar vulnerável porque o mundo já pisara e zombara dele em todos os aspectos, e tudo o que lhe restara fora sua arte, a arte que agora o consumia, as letras que agora o devoravam, a música que lhe oprimia e castigava seus sentidos, sentia-se preso, e a única forma de se livrar do tudo era lançá-lo no nada.


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O nada ganharia a batalha sem nem precisar lutar?
O pequeno poeta conhecia uma trovadora, uma pequena contadora de histórias que podia ler os corações das pessoas porque amava o Verbo e tinha o dom de encontrar palavras, mas a trovadora havia perdido suas palavras e por algum tempo não podia encontrá-las. Ela estava sozinha por muito tempo e havia guardado as palavras quando deveria tê-las entregue, assim seu dom adormeceu e as palavras ficaram perdidas, pois ela não podia ler corações tão bem quanto antes e por isso não sabia o que estava errado com seu amigo poeta, ela o amava, sabia que algo não estava bem, mas ela não sabia o que era, não conseguia descobrir...
Ela esperou que ele viesse, ela esperou que ele soubesse que ela estava lá, mas o poeta não estava. Então a trovadora chorou, chorou e implorou ao Verbo que trouxesse de volta as palavras para que ela soubesse o que estava errado com o poeta e pudesse ajudar. Ela não queria mais estar sozinha, ela queria de volta todas as palavras que perdera, ela queria ler corações porque fora boa nisso, e isso era tudo o que ela era boa fazendo.
Então por uma vez as palavras voltaram.

Hesitantes...

               Um Pouco sem jeito...

                              Um pouco de lado...

                                            Não as mais bonitas...

                                                           Talvez as mais úteis...


A trovadora conseguiu dizer o mais importante... Que ela estava lá para ele... Que ela trouxera o Verbo com ela... Que as palavras que ela recebera eram as melhores de todas, porque não lhe lançariam no nada... Nem mesmo o encheriam de tudo... Porque eram do Verbo, e o Verbo ia muito mais longe que a Teoria, Ele era o dono das Ações... Enquanto a teoria falava que abraços eram falsos... O Ato de Abraçar confortava... Enquanto a teoria revelava que muitos são os caminhos, os passos do Verbo iam sempre à mesma direção. Então o Poeta poderia ver que teorias mentem, mas Atos revelam...
Ela prometeu que se as palavras voltassem - se o Verbo deixasse - ela seria uma contadora melhor, que nunca mais se tornaria uma guardadora de histórias, que deixaria as palavras irem quando quisessem e aceitaria todas as palavras que viessem do Verbo, mas jamais recolheria palavras estranhas. A Trovadora chorou, implorou e esperou pelo poeta, para que ele voltasse e aprendesse palavras boas, para que ele contasse sua história e deixasse a beleza entrar em seus versos. Ela pediu perdão por nem sempre estar atenta às suas rimas...

E ela esperou...
Esperou...
Esperou...

Sempre guardando as melhores palavras e as mais doces para dar a ele... Para mostrar que elas existiam... Para suavizar sua dor...

A trovadora espera...

Espera...

E Espera...

Quando será que o poeta virá?



[De Maíra Carneiro para meu amigo Poeta, posso ser somente uma contadora de histórias, uma simples trovadora que de vez em quando perde suas palavras, mas tente lembrar-se sempre de que você pode muito mais que na Teoria, e que sempre vou esperar muito de você por que é essa a grande diferença dos amigos... Nós nunca perdemos a fé. Acredito em você! Apenas  deixe o Verbo lhe dar as palavras certas.]

PS: Confio que saibas que é pra ti, mesmo se não puser teu nome O.-


1 comentários:

  1. Não sei se sou eu, porém vi muito de mim. Adorei, Dill, cara de funil...

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