Estou
acostumada a começar contos com era uma vez... Mas este não é um conto de
fadas. É tenso, é triste e um pouco travado. Não garanto uma leitura agradável.
Não garanto a beleza da prosa nem versos elaborados... Eu só continuo aqui, com
esperança de que ele faça alguma diferença. Não sou a pessoa mais indicada para
escrevê-lo, talvez... Mas sou a única com o teclado sob as mãos.
Meu
conto é sobre um poeta, um poeta que amava o mundo.
Meu
conto é sobre um poeta, um que ainda assim odiava o mundo.
Sua
vida não foi um mar de rosas, seus medos não foram acalmados, suas tristezas
não foram consoladas, seus amigos não eram amigos e sua família não sabia nada
sobre sua dor. Ele nem sempre foi um poeta, (e aqui alguns talvez discordem
porque acreditam que poetas já nascem aos versos, mas eu acredito que a vida
constrói um poeta.) Ele era somente um garoto como mil outros garotos, mas
diferente de qualquer pessoa, era individual e assim fora criado, separado de
outros em sua pequena bolha. Então um dia ele conheceu o mundo das letras, dos
códigos e das palavras, e lá ele aprendeu que podia se recriar, e que podia se
refazer e ainda ser ele mesmo. Aprendeu a brincar com palavras e a esconder-se
dentro de si, ele aprendeu as rimas e as métricas e se encantou com a teoria de
tudo e sobre tudo pela teoria, nunca pensou que fosse fácil viver, nunca
aceitou as repostas simples e por isso se tornou um poeta, para vomitar de
volta no mundo aquilo que o mundo o fazia engolir. Sua revolta cresceu e ele
achava que tudo e nada eram o mesmo. Tentou desafiar o que ninguém venceu,
tentou responder aquilo que só Deus sabia e debateu, e discutiu, porque
concordar não era algo com que ele se sentisse bem. E lutou, mesmo que o
oponente não soubesse que era um inimigo, então deixou de ser ele mesmo. Quis
esconder dentro de si tudo aquilo que ainda considerava bom e tomou os vilões
por heróis. O Poeta deixou para trás sua infância feliz; quando sua família o
erguia no colo e o aconchegava. Sua família não podia se aproximar porque o que
nos ama se supõe que nos destruirá, e ele tinha medo de aceitar esse amor, ele
tinha medo de se tornar vulnerável porque o mundo já pisara e zombara dele em
todos os aspectos, e tudo o que lhe restara fora sua arte, a arte que agora o
consumia, as letras que agora o devoravam, a música que lhe oprimia e castigava
seus sentidos, sentia-se preso, e a única forma de se livrar do tudo era
lançá-lo no nada.
....
...
..
.
O
nada ganharia a batalha sem nem precisar lutar?
O
pequeno poeta conhecia uma trovadora, uma pequena contadora de histórias que
podia ler os corações das pessoas porque amava o Verbo e tinha o dom de
encontrar palavras, mas a trovadora havia perdido suas palavras e por algum
tempo não podia encontrá-las. Ela estava sozinha por muito tempo e havia
guardado as palavras quando deveria tê-las entregue, assim seu dom adormeceu e
as palavras ficaram perdidas, pois ela não podia ler corações tão bem quanto
antes e por isso não sabia o que estava errado com seu amigo poeta, ela o
amava, sabia que algo não estava bem, mas ela não sabia o que era, não
conseguia descobrir...
Ela
esperou que ele viesse, ela esperou que ele soubesse que ela estava lá, mas o
poeta não estava. Então a trovadora chorou, chorou e implorou ao Verbo que
trouxesse de volta as palavras para que ela soubesse o que estava errado com o
poeta e pudesse ajudar. Ela não queria mais estar sozinha, ela queria de volta
todas as palavras que perdera, ela queria ler corações porque fora boa nisso, e
isso era tudo o que ela era boa fazendo.
Então
por uma vez as palavras voltaram.
Hesitantes...
Um Pouco sem jeito...
Um pouco de
lado...
Não
as mais bonitas...
Talvez
as mais úteis...
A
trovadora conseguiu dizer o mais importante... Que ela estava lá para ele...
Que ela trouxera o Verbo com ela... Que as palavras que ela recebera eram as
melhores de todas, porque não lhe lançariam no nada... Nem mesmo o encheriam de
tudo... Porque eram do Verbo, e o Verbo ia muito mais longe que a Teoria, Ele
era o dono das Ações... Enquanto a teoria falava que abraços eram falsos... O
Ato de Abraçar confortava... Enquanto a teoria revelava que muitos são os
caminhos, os passos do Verbo iam sempre à mesma direção. Então o Poeta poderia
ver que teorias mentem, mas Atos revelam...
Ela
prometeu que se as palavras voltassem - se o Verbo deixasse - ela seria uma
contadora melhor, que nunca mais se tornaria uma guardadora de histórias, que
deixaria as palavras irem quando quisessem e aceitaria todas as palavras que
viessem do Verbo, mas jamais recolheria palavras estranhas. A Trovadora chorou,
implorou e esperou pelo poeta, para que ele voltasse e aprendesse palavras
boas, para que ele contasse sua história e deixasse a beleza entrar em seus
versos. Ela pediu perdão por nem sempre estar atenta às suas rimas...
E
ela esperou...
Esperou...
Esperou...
Sempre
guardando as melhores palavras e as mais doces para dar a ele... Para mostrar
que elas existiam... Para suavizar sua dor...
A
trovadora espera...
Espera...
E
Espera...
Quando
será que o poeta virá?
[De Maíra Carneiro para meu amigo Poeta, posso ser somente uma contadora de
histórias, uma simples trovadora que de vez em quando perde suas palavras, mas
tente lembrar-se sempre de que você pode muito mais que na Teoria, e que sempre
vou esperar muito de você por que é essa a grande diferença dos amigos... Nós
nunca perdemos a fé. Acredito em você! Apenas deixe o Verbo lhe dar as palavras certas.]
PS:
Confio que saibas que é pra ti, mesmo se não puser teu nome O.-
Não sei se sou eu, porém vi muito de mim. Adorei, Dill, cara de funil...
ResponderExcluir